Bolsonaro
propaga aos quatro ventos que o Supremo Tribunal Federal cravou que prefeitos e
governadores eram os responsáveis pelas políticas de combate ao coronavírus e
que isso o impediu de agir. O que o STF disse é que Estados e municípios também
deveriam participar da elaboração da política contra a pandemia. Ou seja,
lembrou que somos uma federação que deve ser gerida com base no diálogo entre
União, Estados e municípios.
O
problema é que, com isso, Jair não conseguiria implementar plenamente o seu
Combo Caos Premium (distribuir hidroxicloroquina + trancar apenas idosos e
imunodeprimidos + o resto na rua para se contaminar o mais rápido possível).
Assim, ele usa a decisão para esconder o fato que foi ele mesmo ter que tirou o
corpo fora evitando articular e liderar um grande plano nacional de combate à
doença. É um caso raro de intrépido capitão que corre para o lado oposto do
campo de batalha.
Desde
então, vem jogando a culpa em prefeitos e governadores, chegando ao cinismo de
divulgar listas de Estados e municípios responsáveis pelo maior número de
mortos, esquecendo convenientemente de colocar a si mesmo, presidente do país,
acima de todos.
Há
colegas jornalistas com pudor de dizer abertamente a presidente mente"
achando que isso extrapola o papel da imprensa. Mas quando a mentira é usada
como instrumento de governo, da mesma forma que foi empregada como ferramenta
de sua campanha eleitoral e como base de seus mandatos parlamentares, não
afirmar isso com todas as letras é um desserviço.
Contadas
à exaustão, as mentiras tornam-se farol e norte para milhões de fãs e
seguidores. Ele não precisa que o Brasil inteiro acredite nelas, apenas que
sejam repetidas por uma parcela de ingênuos e outra de pessoas de caráter
duvidoso, criando uma parcela ruidosa de apoiadores. Simultaneamente, o
pagamento do auxílio emergencial vai mantendo os índices de popularidade em
alta entre os mais pobres, como esta coluna vem repisando desde o início da
pandemia. E a compra de deputados e senadores garante a proteção
anti-impeachment no Congresso Nacional. E, assim, vai construindo a reeleição.
Toda
governante mente. A questão é quando isso se torna parte estrutural de uma
gestão, estando presente em discursos, entrevistas, reuniões, para refutar
quaisquer fatos e dados comprovados que estejam na contramão dos desejos do
presidente. Quando a mentira é muito descarada e é pega no pulo, Bolsonaro
adota a tática Donald Trump, afirmando que nunca disse o que efetivamente disse
e chamando a imprensa de "fake news". Como muitos de seus seguidores
não se dão ao trabalho de checar em fontes confiáveis, a culpa passa a ser dos
"jornalistas que querem derrubar o presidente".
Mas,
durante a pandemia, ele vem sustentando sua maior mentira - a história da
"gripezinha" - com força. Toda sua narrativa ainda gira em torno
disso. A letalidade do vírus? Invenção do Jornal Nacional. Quarentena? Coisa de
brasileiros covardes. Mortes em massa? Mentira, são caixões enterrados com
pedras e hospitais de campanha mantidos vazios para enganar as pessoas.