Fui Paraninfo de várias Turmas/Unopar

sábado, 26 de julho de 2008

Marketing Pessoal


Da mesma forma que o Marketing não se resume em propaganda, Marketing pessoal não pode ser confundido com “promoção pessoal”. De nada adianta uma embalagem bonita, se o “produto” não tiver conteúdo ou estiver com a data de validade vencida.



A teoria Americana, que prega que a pessoa tem de se posicionar no mercado como se fosse uma empresa, infelizmente tem sido levada “ao pé da letra” por muitos indivíduos ansiosos em se darem bem em suas carreiras. Tal distorção se deve, em parte, a alguns cursos de Marketing pessoal ministrados por profissionais que nada entendem de teoria mercadológica e que apresentam receitas básicas - e mágicas, para que as pessoas alcancem o tão almejado sucesso profissional e, conseqüentemente, financeiro.



Assim como nas outras formas de promoção, onde a propaganda costuma exagerar e causar frustração no mercado - quando se percebe que é enganosa, no Marketing pessoal, ou melhor “promoção pessoal”, isto é ainda pior. É pior porque no caso de um produto com defeito basta exigir a troca ou o dinheiro de volta, mas no caso de pessoas não há PROCON que resolva e só a coitada da mãe do indivíduo mesmo é que aceitaria um possível retorno do artigo defeituoso.



Isso ocorre, porque aqueles que se utilizam das perigosas técnicas de promoção pessoal, não levam em consideração os outros mix de Marketing, a exemplo do que freqüentemente ocorre no Marketing Político, onde o produto prometido à população nunca chega. Muitas pessoas tentam esconder suas deficiências renovando apenas o design de suas embalagens e se esquecem da reciclagem interior. Não são mais um ser humano, são as marcas de roupas que vestem ou os cargos que ocupam.



Outras vivem constantemente em “Marketing de Guerra”, onde o que vale é esmagar impiedosamente o concorrente, e não são raras as vezes em que os indivíduos acabam apelando para estratégias de “baixo escalão”, como o famoso “puxar o tapete”, “furar o olho” ou o simples e inofensivo “puxa-saquismo”. Já outras, que também partilham dessa mesma filosofia concorrencial, embora não tenham a coragem dos primeiros de agir de “má fé” com os colegas, acabam se concentrando em ser os interlocutores dos próprios méritos, numa espécie de relações públicas trabalhando em causa própria.



E neste contexto patético do homem-produto ficam se “publicitando“ no mercado – que na realidade abrange apenas os ouvidos dos colegas, através de mensagens do tipo: “Eu sou o PHD nisso...”, “ Eu tirei 10 nisso/ naquilo ...”, “ Eu fui promovido por causa disso...”, “ Eu sei fazer isso/ sei fazer aquilo...” Na mente desses indivíduos, o suposto concorrente estaria morrendo de inveja porque ele é o bom geral, o Número Um, A Mercedez Benz que fala e anda, o IBM em forma de gente, o Rolex que nunca atrasa, a HP que possui cores mais bonitas....Enfim, haja paciência para que tais mensagens desçam redondinhas como a SKOL. Alguns fazem até questão de deixar a marca de sua empresa pessoal registrada por onde passam – através das inimizades e antipatias que constroem e acabam por se transformar realmente numa empresa, numa espécie de COISA SA. - que na verdade é LIMITADA, e assim se tornam antipatizados entre amigos e colegas, por estarem sempre tentando vender algo, ou fazendo algo para obter alguma coisa em troca, quando um simples sorriso exibido espontaneamente talvez fosse o suficiente para atingir o seu objetivo e angariar a simpatia de todos.



Nesse tipo de banalização do Marketing pessoal, o ciclo de vida profissional do indivíduo que não soube trabalhar os outros pilares da atividade, acaba sendo ainda mais curto do que o ciclo de vida tradicional de um produto ou serviço. Quantas pessoas já não tiveram um colega exibido que acabou decepcionando todos, pois vivia ostentando um conhecimento ou habilidade que não tinha e na hora de colocá-lo em prática foi aquele vexame do tipo: “Mas ele não vivia dizendo que tinha morado cinco anos em Londres, que aprendeu o inglês mais puro ? Como é que agora ele não é capaz de traduzir para a gente o que o gerente da nossa matriz em Oxford está dizendo no vídeo ? ““Aquele cara não era o tal fera em finanças que tinha feito uma pós na FGV ? Como é que ele não conseguiu nem calcular o custo do nosso projeto ? ”“No currículo dele não dizia que ele fez bico de Webdesigner, como é que ele não sabe nem ligar o micro ????”



A célebre frase de Abraão Lincoln – “Não se pode enganar todo o povo, todo o tempo”, exemplifica muito bem o que acaba acontecendo na chamada fase de estagnação do ciclo de vida das pessoas “coisificadas”, que na realidade, já estavam estagnadas desde o início do ciclo, pois se esqueceram de que a vantagem competitiva e os diferenciais de mercado residem exatamente na espontaneidade das atitudes, gestos e inter-relações. O Marketing Pessoal deve ser desenvolvido em forma de atitudes descompromissadas, que estejam em sintonia com a personalidade de cada pessoa, suas aspirações e as tendências da nova era do Marketing, pautada pelos princípios éticos e sociais, em que os produtos e/ou serviços não devem oferecer danos ao meio ambiente e à comunidade nele inserido.



O Marketing pessoal deve ser aquele realizado sem segundas intenções, pelo simples prazer de fazer aquilo que gosta ou de ajudar a quem precisa. Uma rede de bons relacionamentos com colegas e amigos satisfeitos será sempre o veículo de comunicação mais forte e mais barato, que acaba atingindo o “target“ certo no momento ideal, com a mensagem oportuna. Para isso torna-se necessário o abandono da filosofia concorrencial (que abarca paradigmas de um mundo relacionado à empregabilidade) e sua substituição pela filosofia do cooperativismo (que está presente no mundo da trabalhabilidade).



A idéia de emprego que temos, foi concebida durante a Revolução Industrial e não diz mais respeito às forças econômicas e às relações trabalhistas existentes na revolução tecnológica que vivemos em pleno séc. XXI. A diferença entre procurar um emprego e buscar por um trabalho é que nesse último o que a pessoa procura, na realidade, é o que “precisa ser feito”, “onde”, “como”, “com que recursos” e a partir daí cria suas próprias oportunidades, ao invés de esperar que o poder público ou a iniciativa privada abram novos postos de trabalho. De acordo com essa filosofia surgem os consultores, os free lancers, os autônomos, os prestadores de serviços terceirizados, que cada vez mais são procurados tanto por pessoas físicas, quanto por pessoas jurídicas. Aqueles que têm medo da concorrência em áreas que já estão desaparecendo é porque são, no mínimo, desatentos e se são desatentos é porque não tem competência, ou melhor – capacidade de competir.



Competir é saber inovar. A competição saudável conduz o indivíduo à inovação a partir do momento em que ele vai buscar alternativas de trabalho mais atraentes, ao invés de ficar tentando se vender ao mercado como se fosse um produto e muitas vezes disputando uma vaga para algum cargo mediano que não trará tantas oportunidades assim no futuro. A inovação é território dos que não têm medo da concorrência (potencial, real ou imaginária) simplesmente porque conseguem ser visionários a ponto de enxergarem tantas alternativas de trabalho, que conseguem criar seus próprios mercados ou serem tão originais no mercado tradicional (da empregabilidade) que mesmo o concorrente copiando-lhe o trabalho, jamais saberá a forma como este trabalho foi concebido na mente de seu criador.



Se você tem a sua maneira própria de trabalhar e confia no que faz, não tem que prestar atenção no que o seu vizinho está fazendo. Se você tem a plena convicção de que o produto que está oferecendo ao mercado realmente está agregando algum valor ao PIB Social, então não tem com o que se preocupar. Se o seu produto tem o seu toque, o seu próprio conteúdo (e não, o dos outros), uma embalagem pessoal em conformidade com este conteúdo autêntico e finalmente, uma marca confiável, no sentido de que as pessoas possam crer que o que você diz corresponde ao real, então você está no caminho certo do Marketing Pessoal, que surge espontaneamente.



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